domingo, 9 de agosto de 2009

JUVENTUDE TODA PERDIDA...


ESTA HISTÓRIA É BASEADA EM FATOS REAIS

Logo após o recesso junino tivemos apenas uma semana de aulas para revisar os conteúdos para as duas próximas Semanas de Avaliações. Passei esse tempo em stand by, pois praticamente não houve aulas. Mas isso foi bom, porque tive tempo de preparar um material de “lenhar” para as aulas de Sociologia.

Dando continuidade à segunda unidade os temas das próximas aulas seriam: juventude, educação e racismo. Consegui um material legal que, de forma lúdica, daria conta de tudo em no máximo quatro aulas, com direito a produção de texto e tudo mais.

Escolhi duas músicas, um poema e um vídeo (curta de 5 min.), a saber: Traumas (Edson Gomes), Quadro Negro (Simples Rap’ortagem) , Faveláfrica (A Família), Violentamernte Pacifico (Gabriel Texeira).

O objetivo era fazer os alunos analisar e refletir acerca de sua condição juvenil na sociedade atual a partir da forma negativa que Edson Gomes retrata a juventude.

A metodologia consistia em, a partir dos contextos sócio-históricos apresentados em “Quadro negro” e “Faveláfrica”, munir os alunos de argumentos para que os mesmos pudessem expressar claramente seus pontos de vista, melhorando paralelamente, suas produções textuais que seria posteriormente compara com o ponto de vista de Ras MC Léo Carlos (vídeo).

Confesso que não sou adepto do Hip-Hop, pois o julgo um movimento muito americanizado - gosto mais de reggae. Entretanto as obras em questão dispensam qualquer comentário (confira nos links). Por ser um movimento jovem, composto por jovens, falando para jovens, achei que estava “bombando”...

Na minha santa inocência, imaginei que meus alunos compreenderiam que, diferente do quadro pintado por Edson Gomes, o jovem não é um alienado, prostituido, drogado... Ele tem opiniões, reivindicações e propostas coerentes. A prática mostrou-me o contrário. Não era bem assim... E isso é preocupante.

O FATO

No dia 29 de julho coloquei o plano em prática na turma 90V5. Discuti, contextualizei o conteúdo durante duas aulas. Depois combinamos que na aula seguinte eles ouviriam a poesia Faveláfrica e fariam, como já disse, uma análise escrita (em grupo) da música Traumas.

Uma semana depois... Ao entrar na sala, acompanhado por Profª Marlene que resolvera prestigiar nosso trabalho, fui cumprimentado por um aluno nos seguintes termos:

- Professor, o senhor ainda vai continuar falando dos ne-gros, vai?!

A pergunta não soou bem, pois veio acompanhada de uma expressão facial de enjoou. Eu bem sabia o que estava por trás daquela pergunta, mas dei continuidade ao que foi planejado. Executei a poesia que havia copiado (CD) na véspera, depois perguntei se eles precisavam de algum esclarecimento ou se já poderíamos passar para a música Traumas.

Ninguém disse nada...

Como os conheço bem, provoquei:

- Vocês entenderam em que sentido os baianos Rui Barbosa e Milton Santos são citados no poema?

Mais uma vez ninguém disse nada...

Então resolvi contextualizar aquela obra também. Nesse meio tempo, outro aluno lançou-me uma perguntou em alto e bom som:

- Professor, por que em suas aulas o senhor “só” fala de ne-gros?!

Professora Marlene abriu a boca e regalou os olhos. Eu, surpreso com aquela pergunta, pensei e respondi:

- Bem... Pelo que me consta, essa é “apenas” a segunda vez discuto a questão racial com vocês. E dentro do contexto dos problemas sociais brasileiros, junto com o tema juventude e educação... Não é mesmo?

Todos ficaram calados aparentemente surpresos com minha observação. Então aquele primeiro aluno acudiu:

- Sabe o que é professor...?

- Sei sim... Esse tema incomoda vocês, não é?

- Olhe professor... Não vou menti... Me incomoda mesmo. Eu não sei o porquê, mas incomoda. Talvez sejam as coisas, o modo, que o senhor fala... Não sei, não...

A sinceridade dele me comoveu... o resto, dali em diante, foram apenas lucubrações. O vídeo!? nem pensar... O sinal tocou, a atividade solicitada não ficou pronta e a discussão ficou inacabada...

Antes de sair da sala, porém, passei para eles o endereço deste blog. Sinceramente espero que eles acessem, leiam, reflitam e participem. Mas ainda resta uma pergunta no ar...

POR QUE SERÁ QUE ESSE TEMA INCOMODA TANTO???
Prof. Gilvan Barbosa
TRAUMAS
Edson Gomes

O amor foi a pedra que faltou no alicerce da nação
Esse amor és a pedra que sobrou nessa nossa construção
E o amor que os cantores cantam
Não junta a família
Não soma,não junta a família
Filhos e filhas contraindo traumas
Sexo e drogas, fama e dinheiro
Assunto principal
Sexo e drogas, fama e dinheiro
Notícias do jornal
Juventude toda perdida
Uma juventude mal dirigida
E mesmo protegido pela polícia
Nós não estamos livres da violência
A juventude toda perdida
Uma juventude mal concebida
Mesmo protegidos pela polícia
Nós não estamos livres da violência
Que não soma, nem junta uma família
Não soma, não junta, a família...

CONFIRA OS TEXTOS


FAVELÁFRICA
http://vagalume.uol.com.br/a-familia/favelafrica.html
QUADRO NEGRO
http://simplesrap.multiply.com/journal/item/2/2



ASSISTA AO VÍDEO




VIOLENTAMENTE PACIFICO...
...Se lhe incomodar, comente.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá ,

    Muito interessante o fato de não haver nenhum comentário sobre os textos ,assim como nas aulas de Gilvan , em que ele alegoricamente chamava os alunos de "plantas" ,
    como um termo provocativo . Gostaria de comentar a aula do dia 29 de julho , já que eu estava presente , e manifestar minhas opiniões .
    Primeiramente , digo que eu havia exposto oposição com relação ao contido no texto (Quadro Negro - Edson Gomes) ,e afirmei : o sexo , o sensacionalismo da mídia e etc , são "estilhaços" do capitalismo, ao qual os jovens são os mais prejudicados . E também me recordo do excelente poema vídeo Faveláfrica (A Família), que quase cheguei a aplaudir após sua exibição , porem vi que seria um manifesto solitário dentro daquela sala ( parecia que só eu tinha admirado a quantidade de informação e cultura que ele trazia de forma bastante original ) ,e fiz questão de baixar ao chegar em casa , já que a escola NÃO FORNECE ESSE MATERIAL .

    Em relação a questão que ficou no ar “POR QUE SERÁ QUE ESSE TEMA INCOMODA TANTO??? ”, acho que o que incomoda na maioria dos alunos são os temas que eles tem maior dificuldade de expressar opiniões próprias , como as questões que envolvem a homossexualidade , preconceito racial e etc . Não os culpo , já que a nossa sociedade majestosa nos impõe isso , começando da educação domestica , pois a maioria dos pais se omitem a tocar nesses determinados assuntos .

    Aproveitando a oportunidade gostaria de criticar a expressão usada pelo professor Gilvan quando ele faz um breve comentário sobre o Hip-Hop , sendo que ele atribui a questão de ser um movimento de caráter americano . Bom ou ruim, acho que tanto o Reggae como o Hip-Hop são expressões culturais de são manifestos de negros marginalizados e isso já uma questão que deveria ser levada em conta !!!

    É isso aew , espero que outros alunos
    também de suas opiniões aqui .

    Albert Peneluc , 90V5

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